Uma geração invisível nasce e vive sob o estigma da
prisão, mesmo plena de inocência. No país, 80% das presas têm filhos, gerados
dentro ou fora da cadeia. A realidade dessas crianças, na prisão ou fora dela,
nas unidades materno-infantis ou nos abrigos, ilustra como os crimes das mães
e, em muitos casos, a morosidade dos ritos da Justiça deixam sequelas nas
famílias.
São 18 mulheres, multiplicadas por dois. Recolhidas
no Presídio Talavera Bruce, no complexo de Bangu, na Zona Oeste do Rio, elas
compartilham dias e noites de nove dos meses mais cruciais na vida feminina: o
período de gravidez. É sobre ele e os filhos que estão gerando que sete delas
falam com a repórter, entre apáticas, irritadas e resignadas. As detentas
confirmam, com suas histórias, as estatísticas: grande parte está presa por
tentar entrar em presídios com drogas. Apenas duas estão na primeira gestação.
Os dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) indicam que 80% das
mulheres presas são mães e 60% foram encarceradas por crimes relacionados ao
tráfico. Desde fevereiro deste ano, as presas grávidas do Rio estão reunidas no
Talavera Bruce.
Carregando no ventre um futuro incerto, como suas
colegas de cárcere, e grávida do quinto filho, Lídia, de 30 anos, está presa
por ter entrado com drogas em outro presídio, em troca de dinheiro. Foi
enquadrada no artigo 3340 do Código Penal, como grande parte das 1.700 presas
do sistema carcerário do Rio. Ela visitava o pai de um de seus filhos. É sua
primeira passagem pela polícia. Descobriu que estava grávida na prisão.
— Eu sei que o que eu fiz não foi certo. Mas, para
os meus filhos, não vou enganar a senhora, não, faria de novo. Só sou eu por
eles e eles por mim. Mas quando eu entrei no sistema (na prisão), não sabia que
estava grávida, descobri aqui. Foi um desespero. Tá sendo difícil, a distância,
a saudade, mas eu tento me equilibrar. Já tive um princípio de aborto, fiquei
internada quatro dias — conta Lídia, que não vê os filhos há três meses e diz
não ter tido o perdão da mãe.
Jocimara, de 32 anos, também descobriu que estava
grávida na prisão. Foi flagrada em uma revista corporal num presídio masculino.
Desconfiou da gravidez depois de duas semanas no presídio Joaquim Ferreira de
Souza, também em Bangu, e porta de entrada do sistema carcerário feminino. Além
do bebê que espera, Jocimara tem outros cinco filhos — dois moravam com a avó,
no Espírito Santo, e três com ela. Todos agora estão em solo capixaba. As
crianças não veem a mãe há cinco meses.
Fonte: O Globo
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