06/02/13 - Visita de Dom Helder a casa de detenção em Recife



Em 09 de abril de 1967, em uma visita a casa de detenção de Recife, Dom Helder reuniu todos os 800 detentos no pátio para assistirem uma missa de páscoa. Estavam presentes, acompanhando Dom Helder, o governador do Estado de Pernambuco, o presidente do Tribunal de Justiça, o secretário de segurança pública e o diretor geral da penitenciária. Todas estas autoridades ficaram constrangidas ou irritadas, quando Dom Helder lembrou que aquele presídio havia sido construído para comportar 120 pessoas. “Tinha se transformado numa masmorra desumana com 800 presos, uma vergonha para qualquer governo.”...Terminada a pregação, Dom Helder começou a cumprimentar os presos que lhe estendiam as mãos. Foi caminhando entre eles até chegar ao histórico militante comunista Gregório Bezerra, que do palanque havia percebido no meio da multidão. Os dois não se conheciam pessoalmente, mas Dom Helder ficara chocado ao saber das humilhações que Gregório sofrera ao ser preso, logo depois do golpe militar, conduzido pelas ruas de Recife na carroceria de um caminhão, pés e mãos algemados e pescoço amarrado.
Preso no quartel, Gregório seria cruelmente torturado com requintes de sadismo pelo próprio comandante daquela unidade, que ainda promoveria um novo desfile pelas ruas com o prisioneiro todo ensanguentado, acoitando-o publicamente e convidando os transeuntes a linchá-lo. Estes acontecimentos foram narrados pelo próprio Gregório Bezerra em suas memórias: “Quando D. Helder terminou a solenidade religiosa, desceu do palanque e começou a atravessar a multidão, andando na direção em que eu me achava. Supus que viesse cumprimentar algumas personalidades que se encontravam perto de mim e assim procurei dar-lhe passagem. Ele parou bem na minha frente e disse: Gregório, meu amigo, eu o estava vendo de longe com a sua cabeça branca e vim cumprimentá-lo. Como vai a sua saúde? Muita saúde e longa vida é o que lhe desejamos de todo o coração. Foi o que pude dizer, surpreendido e emocionado pelo honroso cumprimento.”
O encontro também ficou marcado na memória do arcebispo: “ Em certo momento descobri no meio dos presos, cabeça branca, Gregório Bezerra. Fui direto abraçá-lo. Era um pagamento atrasado pelos açoites públicos que ele recebeu, dias antes da minha chegada `a Recife”. Chorou de emoção o velho forte e me disse : “Se eu tivesse sido solto, minha ALEGRIA não seria muito maior do que a de receber seu abraço, bom pastor.”


Fonte: Encontro com a sabedoria

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